Especialistas defendem política de longo prazo para compostagem

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Engenheiros ambientais e agrônomos defenderam, na quarta-feira (29/07), uma política de longo prazo voltada para a reciclagem de resíduos orgânicos – a chamada compostagem. Na avaliação dos especialistas, é uma mudança de paradigma que levará tempo para se concretizar, mas que dependerá da boa vontade dos governos em incentivar a população a mudar de comportamento e separar corretamente, na origem, os restos de alimentos de outros materiais.

“Uma vez que as pessoas saibam as regras, elas precisam ser incentivadas”, defendeu o consultor de gestão de resíduos orgânicos e compostagem Antonio Storel. “Quando a população vê que o governo esta falando sério, a regra se impõe, se estabelece. A população adere”, disse.

Storel e outros especialistas participaram de debate virtual sobre compostagem, dentro da programação de seminário sobre a implementação efetiva da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) nos próximos 10 anos, promovido pela Frente Parlamentar Ambientalista, em parceria com diversas entidades.

Reciclagem
Compostagem é a reciclagem de resíduos orgânicos ou a transformação de restos de frutas e legumes, podas de jardim ou serragem em adubo orgânico para enriquecer o solo para a agricultura ou a jardinagem. Antonio Storel ressaltou que trata-se de um mercado essencial para um país agrícola como o Brasil.

A compostagem é também uma maneira de reduzir o lixo produzido pela sociedade, evitando que esses restos sejam depositados em aterros ou lixões, onde liberam gás metano (de efeito estufa) e chorume (líquido que contamina o solo e as águas).

Segundo Storel, é possível resolver o problema da mudança climática ao devolver para o solo o resíduo orgânico depois da compostagem. “Nos Estados Unidos, isso está virando uma revolução científica e política. Recursos estão sendo carreados para os agricultores que estão fazendo compostagem e jogando composto nas suas terras”, disse.

O consultor acrescentou que a cidade de São Paulo já conta com cinco pátios de compostagem urbanos descentralizados. Como ressaltou, o método utiliza tecnologia que não produz odor e pode, portanto, ser feito dentro da cidade. “Em Brasília, o pátio fica a 600 metros da residência oficial do governador”, afirmou ainda.

Separação correta

A separação correta pode ser feita em casa por qualquer um e deve ser observada principalmente pelos grandes geradores, como feiras, mercados e restaurantes. Quanto mais limpa de embalagens de vidro, plástico ou metal ou de rejeitos sanitários, melhor a matéria orgânica para compostagem.

“No Brasil, metade do nosso resíduo é orgânico. Apenas 0,4% da massa coletada acaba na compostagem. Ou seja, 0,8% do nosso resíduo vai para a compostagem”, lamentou o especialista em Resíduos e Biogás da Organização das Nações Unidas (ONU) Luis Felipe Colturato.

Ele lembrou, por outro lado, o potencial de crescimento que o País tem, por dispor de conhecimento e tecnologia sobre o assunto.

Exemplo de Florianópolis

No debate, foi destacado o exemplo de Florianópolis, que já possui sua lei de compostagem (lei municipal 10.501/19). A norma institui a obrigatoriedade da destinação ambientalmente adequada de resíduos sólidos orgânicos por meio dos processos de reciclagem e compostagem. A meta é destinar à compostagem 100% dos resíduos até 2030 e 25% neste ano de 2020.

Vereador pelo Psol da capital catarinense, Marcos José de Abreu disse que a atividade de compostagem urbana e descentralizada, especialmente a comunitária, traz, entre seus benefícios, sustentabilidade para ambientes e oportunidades de trabalho para jovens e outras lideranças comunitárias, ao transformar resíduos em adubo orgânico que pode ser utilizado em hortas escolares.

Neste ano, primeiro da lei, a prefeitura deve apresentar o que conseguiu reduzir na quantidade de resíduo que vai para o aterro. Abreu acredita ser impossível chegar aos 100% de compostagem de resíduos orgânicos, mas é a intenção.

Desperdício de alimentos

Nas discussões, Luis Felipe Colturato chamou atenção ainda para o desperdício de comida no Brasil. Com menos comida jogada fora, menos resíduos seriam gerados, defendeu.

“Um terço do alimento produzido no mundo é descartado. A gente perde um terço do que produzimos para o lixo”, criticou. “A comida que descartamos, fosse um país, seria o terceiro maior emissor de gás de efeito estufa. Todo esse alimento que está indo para o lixo, o quanto de água eu gastei para produzir, o quanto de energia, o transporte para levá-lo até as cidades, os nutrientes que precisei adicionar ao solo”, listou.

Por isso, antes de falar em compostagem, na opinião de Colturato, é preciso falar em alimentação de pessoas, utilizando produtos que hoje são jogados fora. Alimentos feios, comumente rejeitados, por exemplo, podem ser vendidos a um preço mais barato, sugeriu.

No Brasil, acrescentou o representante da ONU, cada família desperdiça quase 130 kg de alimentos por ano, mais que países da Europa. “É uma questão cultural. Quando o brasileiro ganha seu salário, ele vai ao supermercado e faz uma grande compra. Essa compra muita vezes é mal gerenciada, muitas vezes se perde. Outra coisa: o arroz tem que ser fresquinho, não pode ser comida requentada. São vários pontos que geram desperdício nos lares”, observou Luis Felipe Colturato.

Eleições

A bióloga Carla Gheler-Costa, assessora parlamentar de meio ambiente na Câmara dos Deputados, destacou a importância do momento para o assunto. “Teremos eleições neste ano e vale agora exigir dos políticos o compromisso com a reciclagem e a compostagem. Olhar de forma diferenciada e não como lixo, não como algo que tem mau cheiro”, observou.

A assessora participou da discussão em nome do coordenador da Frente Ambientalista, deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP). O debate foi mediado pelo engenheiro ambiental Victor Hugo Argentino.

Fonte: Agência Câmara

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